a rua é da gente

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sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Pajés na cena eletrônica

 Chega a surpreender. Dois indígenas Hunikiun da Amazonia e três renomados artistas da cena eletrônica nacional e internacional se uniram para fazer música.
     O encontro entre Keã Inubake e Bainawa Inubake e L_cio, BMind e Psilosamples já rendeu composições e um espetáculo, apresentado no Festival Mbaraeté, na Casa das Caldeiras, em que as duas tribos subiram ao palco para mostrar o repertório que mescla cantos e melodias ancestrais às bases musicais, que saltaram da imaginação e da parafernália tecnológica dos renomados produtores. A inusitada parceria também vai gerar um cd, produzido por Gustavo Santos, do estúdio audiofya e Wagner Bagão e Arnaldo Roubles, seguido de lançamento nas redes digitais.
     Não se imagine que a preocupação do povo hunikiun em resgatar e propagar sua cultura seja recente. Prova disso é que, no último ano, os pajés Bainawa, acompanhado da esposa Samã e filhas,  Keã, em fomação, além de seus mestres, Txana Maxã e Txanã Bainawa,  desembarcaram em São Paulo para transmitir e fortalecer a troca de conhecimentos ancestrais, além de compartilharem do artesanato e culinária a medicina indígenas.
   Os pajés trouxeram plantas da floresta amazônica para o tratamento de diversas doenças e tem oferecido consultas, envolvendo ritual e uma série de perguntas dirigidas aos pacientes para diagnosticá-los. Em seguida, explica Txanã Bainawa, eles prescrevem infusões e banhos, e, se necessário, uma dieta alimentar de poucos dias para a cura do mal que os aflige. E finalizam a terapia, esclarece Txana Maxã, com o uso do peão roxo para fechar o corpo do paciente, impedindo que ele sofra do mesmo mal novamente.
     Vale ressaltar, como informa Kae, que os pajés detém um vasto conhecimento sobre as propriedades terapêuticas das plantas. É justamente este domínio, adquirido ao longo da vida e transmitido de geração em geração, que lhes permite isolar o princípio ativo das plantas para remissão da doença. Além, é claro, de sua imensa sabedoria que lhes confere o posto de líderes espirituais de seu povo. "Os pajés são conselheiros da aldeia e nos protegem dos males", esclarece Kae.
     Os hunikiuns, a propósito, que estão nessa espécie de cruzada para incluir a terapia indígena, entre outras adotadas para n problemas de saúde,  já mexeram seu pauzinhos para atuar em duas frentes. Fizeram uma parceria com um psicólogo para oferecer atendimento paralelo aos pacientes de sua clínica. E vão erguer ocas e terreiro numa área na Aldeia do Jaraguá para oferecer tratamento medicinais e espirituais aos indígenas guarani mybia, que são vítimas da dependência química.
     " A gente também luta em defesa do nosso território e do meio ambiente", frisa Kae, e prossegue "até porque são imprenscidíveis a sobrevivência de nosso povo e cultura", diz ele, que promove oficinas sobre questões indígenas de natureza política.
     "As terras indígenas precisam ser demarcadas e legalizadas para que se possa proteger a natureza da destruição. " , adverte Kae. Mais ainda. "As fontes de água estão sendo minadas e deixando o sertão devastado."
    Essa ação nociva que, cedo ou tarde, vai atingir em cheio toda sociedade brasileira tem afetado mais, como ele destaca, onde se tem menos floresta.
     É por essas e outras que as lutas indígenas em prol da valorização da sua cultura, da demarcação da terra e preservação ambiental tem o mesmo grau de importância. Tanto é que, no momento, estão derrubando as árvores samaúma da Amazonia para a fábrica de madeira compensada de Ratinho, o double de apresentador de programa e dono de emissora de TV que conquista audiência com seu ar bonachão.
     Ratinho não sabe, como todos nós, aliás, que a samaúma é a maior árvore da floresta e nela moram todos os espíritos, bons e maus, da natureza. Enquanto os indígenas lhes pede até licença para entrar na floresta, os ignorantes juruás, brancos, as matam pra produzir compensado.



sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Hip Hop Indígena




                            Xondaro Mc's e OZ Guarani no Festival Mbaraeté, na Casa da Caldeira                                      

   É com ritmo e poesia que uma rapaziada guarani mbya decidiu lutar pela demarcação de terras e pronto: lançou os grupos de rap Xondaro ( guerreiro) MC's e OZ Guarani e, desde então, tem tomado os palcos para falar sobre o seu dia-a-dia dentro e fora da Aldeia do Jaraguá, São Paulo, protestar contra o preconceito e denunciar o extermínio dos povos indígenas. Amanhã, 19/12, eles vão levar para a  Festa de Fim de Ano do Mbaraeté, na Casa Amarela, o rap indígena, que tem dois diferenciais: uma base musical de instrumentos típicos, como rabeca, chocoalho, violino indígena, à eletrônica e versos em português e guarani.
     Movidos pela convicção de que sua música é um trunfo para melhorar as condições de vida de todas as aldeias, que, a propósito, são muito precárias, eles capricham na rima e aproveitam suas exibições para tornar seu trabalho e cultura  reconhecidos por uma variada plateia.
    "Muita gente pensa que índio não tem cérebro e não sabe fazer nada", desabafa o ex-servente de pedreiro Herbet, de 20 anos. Mas ele não se abate. O guerreiro transforma sua indignação em versos e rimas desde os 9 anos e, junto com Thiago, falecido dois anos atrás, e Mário, de 24 anos, formou o Xondaro MC's.
     O grupo se apresentou pela primeira vez no show de talentos promovido na aldeia, em 2007, pela Dra Andrea, antiga médica do único posto de saúde que atende indígenas das duas aldeias do Jaraguá.  Na ocasião, conta Mário, Sandrão, do RZO, amigo de seu irmão Thiago, foi vê-los e lhes deu um pen drive com 100 bases gravadas para que pudessem criar seus raps sem tanta dificuldade.
    De lá para cá, os rappers, que entram em cena caracterizados de guerreiros,  evoluíram musicalmente e tem exibido uma melhor perfomance no palco. Graças as aulas de música, dança e teatro que fizeram no Projeto Vocacional, em 2011. O Projeto também rendeu ao grupo convites para cantar nos Céus, Centros Culturais e outros espaços. Vale lembrar que música e dança fazem parte de sua cultura ancestral, como afirma Mário. " Cresci na aldeia em meio a cantos sagrados para a terra, lua, o sol e dança dos guerreiros".
    Foi, aliás, no ano de 2011 que o grupo tomou as ruas pela demarcação de sua aldeia ao promover e cantar na primeira manifestação indígena em São Paulo. " A nossa música influenciou nessa conquista do nosso povo", revela com orgulho Mario, ajudante de padeiro e de pizzaiolo, que sonha viver da música.
    Fazer carreira musical, porém, está longe de ocupar o topo de prioridades de Mário e Herbet. O que eles querem mesmo é mostrar a beleza e força da sua cultura e contar a verdadeira história indígena, popularizando heróis como Tupi, que libertou muitos parentes e negros escravizados pelos bandeirantes antes de ser morto. Além de passar uma mensagem positiva para a meninada da aldeia.  " A gente fala sobre a importância de estudar e de resistir ao extermínio ", esclarece Herbet.
   Não se pense que eles se limitem a denunciar em suas letras o doloroso cotidiano dos indígenas, abandonados pelo poder público. Nelas, esses rappers abordam os problemas da sociedade em geral que também paga um preço salgado pelas ações e omissões dos governos.
" O homem evoluiu, evoluiu, mas está se tornando um bicho", avalia Herbet e completa, " Todos, indígenas, negros e juruás (brancos) precisam se unir para construir um futuro menos injusto, preconceituoso e desigual"
    Do mesmo modo que o Xondaro MC's, o OZ Guarani também acredita no rap para promover  mudanças na realidade. Tanto é que esse grupo, formado por Jefferson, de 16, Geneci, de 20 e Wladimir, de 19 anos,  surgiu no rastro de uma ordem de reintegração de posse que tirou o sono da aldeia no final do ano passado." O rap é o meio de a gente falar do sofrimento do nosso povo provocado pela falta de demarcação de terra", afirma Jefferson, de 16 anos, e prossegue, " e do descaso dos políticos que não querem nem saber da nossa situação."
   Depois de fazer rimas para alcançar mentes e corações, os rappers criaram uma página no facebook para divulgar seu trabalho e, em seguida, foram convidados para participar do Fórum do Hip Hop. O OZ Guarani, então, entoou seus versos em diversos espaços e levou o público a conhecer um pouco as crianças e os mais velhos da aldeia. E, de quebra, as dificuldades de se estudar numa escola que oferece péssimas condições para aprendizagem.
    "Nossa escola não tem quadra para aulas de educação física", diz Jefferson, e continua "Janelas e telhas estão quebradas, e, quando chove, a minha classe precisa sair da sala pra ter aula em outra turma."
    Outro motivo que rende raps é a falta de respeito de juruás, brancos, por sua aldeia. " Eles jogam lixo e abandonam cachorros na entrada", indigna-se o rapper.
 Essa rapaziada indígena que encontrou no rap o caminho para falar sobre sua vida e superar desafios quer, ao final, algo bem simples, como revela Herbet. " A gente só quer paz e respeito", e finaliza, "Nada mais que sermos vistos e tratados como seres humanos."

Casa Amarela, Rua da Consolação, 1075, São Paulo, SP
 Maiores informações sobre o evento Mbaraeté - Festa de Fim de Ano -  www.facebook.com/events/1038758186162366/





sábado, 5 de outubro de 2013

Astros do movimento anticorrupção e suas licenças poéticas: non passera


 Foto: churrasco na OPB, Ordem dos Parlamentares do Brasil, do início de 2012. Da esquerda pra direita: Marcos Maher ( camiseta azul e criança no colo). Na fila atrás, Dennys Serrano ( camiseta azul e atrás do homem forte de boné), ao lado, Marcello Reis ( camiseta azul e de boné) e a "ruiva" Carla Zambelli .


     Já que o vento também não soprou a favor nas velas da direita, o Partido Militar Brasileiro (PMB) vai ter de adiar o sonho de criar sua legenda e ingressar na cena da política institucional brasileira para desgosto dos doubles de lideranças do movimento anticorrupção e liga repaginada das senhoras católicas.  Que, diga-se de passagem, perderam a chance de talvez contar com essa mãozona e tanto para varrer a corrupção no Legislativo e Executivo e blindar a sociedade do perigo vermelho.
   Fãs de carteirinha da PM, que, vira e mexe, publicam posts em apoio à repressão policial em manifestações,  e com mentes arejadas por lufadas vindas da Idade Média, eles enchem a boca para exigir justiça, falar em  liberdade, democracia e citar o nome  Dele em vão, mas exibem uma trajetória repleta de licenças poéticas.
   Esses combatentes incansáveis dos larapios dos cofres públicos e da impunidade, que, a propósito, se recusam marchar ao lado dos LGBTs por atentarem contra a família e ordem social, chegaram a ganhar o reforço do suplente de deputado federal ficha suja, Dennys Serrano, (PSB) entre 2011 e 2012, e desfrutar da companhia e churrasco oferecido pelo político na sede da entidade presidida por ele ( de camiseta azul atrás do homem forte de barba e boné), Ordem dos Parlamentares do Brasil. Pouco antes, claro, dela ser fechada pelo Ministério Público por práticas criminosas, em abril do ano passado -  a entidade distribuía carteirinhas com brasão da República, solicitando a autoridades civis e militares a concessão de "trânsito livre" a seus portadores e estariam, segundo o MP, sendo usadas por criminosos.
   Não bastasse, a OPB contava, na ocasião, com uma dessas lideranças na vice-presidência: ninguém menos que Marcello Reis, (  de boné e ao lado de Serrano), criador do Revoltados Online e também integrante da UCC, União de Combate à Corrupção, OCC, Organização de Combate à Corrupção - que reúnem diversos grupos anticorrupção e/ou outros - entre n grupos.
     As ligações inusitadas entre Serrano e essa turma são, mais ou menos, conhecidas por parte dos ativistas do movimento e renderam uma saia-justa ou outra. Mas,  graças, a habilidade deles em lançar mão de seus embargos infringentes para contornar assuntos inconvenientes e abafar escândalos, eles tanto não afugentaram membros como engrossaram fileiras de seus grupos nas redes sociais.
    Mais ainda. Convenceram meio mundo que não tinham qualquer envolvimento e/ou feito aliança formal com o político ficha suja, apesar de posts que provavam o contrário, e, detalhe, propagados por  alguns deles mesmos. Os grupos Revoltados Online e UCC dispararam posts em que anunciavam essa parceria, além de vídeo em que o suplente declarou sua  parceria com o Revoltados no combate à corrupção.
    Mesmo assim, quando à OPB caiu e a notícia se espalhou feito rastilho de pólvora, Marcos Maher,  da OCC, que prega intervenção militar, e também membro ou ex de destaque do Revoltados e UCC, decidiu tampar o sol com a peneira, dizendo que essa parceria entre eles, Revoltados, UCC e Serrano/ OPB,  estava, na verdade, em processo de análise. E, o surpreendente, é que muita gente acreditou.
   Esse, digamos assim, flerte também passou despercebido por veículos da imprensa, que  apesar de terem noticiado o escândalo da OPB, aparentemente, ignoram que esses ativistas anticorrupção tiveram relações mais ou menos próximas com Serrano e entidade. Tanto é que, pelo que eu saiba, o assunto não foi abordado em nenhuma das diversas matérias sobre esse pessoal e/ou suas iniciativas que foram publicadas em jornais de grande circulação, além de blogs e sites.
     Não se imagine que os integrantes dessa turma se simpatizem, em maior ou menor grau, apenas com militares. Alguns deles, em especial,  também nutrem sentimentos semelhantes pelo PSDB. Até ai, não há um a, e muito pelo contrário,  para se falar sobre isso até porque cada um tem o direito legítimo de ter suas afinidades político-partidárias. O problema é que, em especial alguns, vendem a imagem de tocar grupos apartidários, mas, na real, puxam sardinha para esse partido, e, às vezes, até de modo acintoso. ( obs: vou falar sobre o assunto em um próximo post)
  O intrigante, aliás, é o fato desse povo, que se destaca por promover manifestações que, em São Paulo, são um fiasco de público continuar ganhando espaços de relativo destaque  na mídia.
   No final de junho, o Estadão publicou mais uma matéria sobre atos promovidos por esse povo, tendo como entrevistados Reis e, pra variar, Carla Zambelli, criadora de o nasruas, que posa, e a se basear no que sai na mídia desde cerca de 2010, é a grande líder do movimento anticorrupção do país para espanto e indignação de muitos ativistas, considerados uns invejosos por Zambelli e seu  fã-clube por não atraírem os flashes e serem, praticamente, ignorados pela mídia em geral.
   Pode-se dizer, inclusive, que o blog de Augusto Nunes, Estadão e O Globo deram uma maõzinha, sem nenhuma intenção, claro, para aproximar  Zambelli, e, no rastro,  Reis e demais de Dennys Serrano. É que essas publicações de prestígio, ao contribuir para tirar Zambelli do ostracismo e promovê-la a grande líder do movimento, pavimentou o terreno para que ela fosse procurada por um cientista que queria denunciar, inclusive, lhe entregando algumas provas, as proezas do político ficha-suja e irregularidades da OPB.  No caso, uma pilha de processos movidos por vítimas lesadas financeiramente por ele,  uma certidão da rejeição de contas do suplente emitida pelo TRE, entre outras.
   Zambelli, de posse do material, não se fez de rogada e no dia seguinte publicou um post no nasruas que, além de conter essas provas, anunciava:  Dennys Serrano, o deputado federal corrupto. A chamada, claro, apesar de equivocada por Serrano ser, na verdade, suplente -  provocou o maior alvoroço e pronto: Zambelli, Reis e outros decidiram fazer uma manifestação em frente à OPB.
  Este ato, no entanto, não apenas não ocorreu, como, também, pouco depois, pasmem, os integrantes do movimento anticorrupção se depararam com a seguinte novidade: a declaração de Serrano, em vídeo, de que havia se unido ao Nasruas na luta contra à corrupção. ( obs: tenho o print da discussão no meu email sobre essa discussão e vou publicá-lo assim que alguém me ensinar a fazer tal operação).
   O vídeo, claro, caiu como uma bomba  e motivou uma operação de guerra para blindar Zambelli, que envolveu, basicamente, três ações: a produção de um vídeo em que Serrano  esclareceu que havia se confundido, e, na verdade, a parceria era com o Revoltados Online e não com o Nasruas, um grupo que se diz apartidário e avesso a qualquer associação com políticos, seguida de outro vídeo em que Zambelli dava explicações sobre o mal-entendido e inocentava o suplente da acusação de corrupto feita por ela no post.
    E, por fim, uma campanha no face que, além de livrar o político dessa calúnia, matou dois coelhos com uma cajadada só: inocentou Zambelli da, digamos assim, leviandade de ter acusado Serrano de corrupto quando, na verdade, ele só tinha processos de dívidas pessoais. E desqualificou e desmoralizou o cientista, que , basicamente, havia usado o movimento para se vingar do calote levado do político. ( obs: alguns desses vídeos estão no youtube)
   O cientista, de fato, abriu o bolso e não foi pago, até algum tempo atrás, pelo menos,  pela grana emprestada ao político. Agora reduzir suas denúncias a uma mera desavença pessoal foi uma dessas distorções que se comete, propositalmente, para converter mocinho em bandido e vice-versa. O pior é que, claro, muita gente caiu em mais esse conto-do-vigário.
   Cabe esclarecer que o cientista conheceu Serrano logo após faturar o Prêmio Abril Sustentável, concedido pela  Editora Abril , ganhando uma homenagem pelo feito da OPB, e , em seguida, convidado pelo político a integrar o quadro de conselheiros da OPB. Ele, evidentemente, aceitou ao convite, e acabou tendo conhecimento de n informações sobre Serrano e OPB, que repassou à Zambelli.
    E, pelo que eu saiba, sem interferência do cientista, elas chegaram ao Ministério Publico, que levaram, como já disse, ao fechamento dessa entidade, criada em 1976 e composta, basicamente, por políticos de pouca expressão,  por práticas criminosas.

Obs: Não citei o nome do cientista neste post porque, apesar de, no passado, ter me autorizado, inclusive me enviado material sobre o assunto, não consegui falar com ele agora para pedi-la novamente, mas publiquei o post porque esses fatos foram, inclusive, divulgados por ele em n grupos de combate à corrupção do facebook.  Falei sobre esse pessoal em posts anteriores: Aos jovens idealistas, Solla, Nahor e Ale, e à princesa Alice, As penas dos pavões voaram na Pauliceia Desvairada e Avisa lá pro Obama: Brasília e Rio Preto são puro jazz, e Washington Carvalho é o cara.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O troféu de perfomance em manifestação vai .....para soldado da PM do Rio de Janeiro





        vídeo compartilhado por Alexandre Mendes,do grupo Universidade Nômade
                                                                         
       Quando se pensa que agentes da repressão já esgotaram o repertório de atrocidades  para, digamos assim, conter manifestações, eles se superam e brindam a plateia com mais um espetáculo de estarrecer os ânimos mais habituados com o uso abusivo de autoridade e  força policial.
     Tanto é que as cenas do vídeo acima, produzido pelo Coletivo Mariachi, mostram que a passeata organizada por Black Bocs em apoio aos professores em greve, no dia 1/10, à noite, no centro do Rio de Janeiro, virou palco para soldados da PM exibirem uma perfomance digna de ganhar uma indicação ao Molière de covardia e descontrole do ano.
      Bastou um gaiato, suposto policial infiltrado, os chamados P2, arremessar uma pedra, quebrando  a porta de uma agência bancária no início da passeata, que, vale ressaltar, foi pego no pulo e impedido de fazer mais lambança pelos blocks,  para PMs começarem a descer o cassete em qualquer um a troco de nada.
      O rol de vítimas da fúria fardada, como sempre, inclui  advogados, fotógrafos e jornalistas, como Cláudia Castello, integrante do Coletivo, que levou um golpe na barriga. Agora, quem ganhou a cena e merece faturar o troféu Molière é o soldado que, após ouvir de um manifestante que eles haviam batido em um advogado, aos 7 minutos do vídeo, soltou, em alto e bom som, a pérola: " F... o advogado! F....! ". O descaso, a propósito, se afina perfeitamente com a conduta de quem bate e de quem manda reprimir com rigor atos de protesto de professores, que cometeram a audácia de se rebelar contra o plano de cargos e salários, sancionado no dia seguinte, 2 de outubro, pelo prefeito Eduardo Paes.  
     Inversão do papel da polícia à parte, o fato do ato de vandalismo do infiltrado deflagrar a ação violenta da PM nessa manifestação serviu pra mostrar aos blocks que eles correm o risco de ser traídos pela tática. Adeptos da ação de depredar  bancos e outros símbolos capitalistas em resposta à repressão policial, entre outros motivos, eles poderiam, e ao contrário do que ocorreu, ter perdido o controle da situação, que, provavelmente, renderia uma quebradeira geral,  com o agravante da fatura entrar na conta deles.
     É que os blocks, evidentemente, popularizaram essa tática e, ao mesmo tempo, se tornaram uma espécie de reféns dessa ação levada aos protestos. Desde que entraram na cena, eles, que, a exemplo do annonymous, converteram modelo de máscara e lenços no rosto em uma marca,  tem sido responsabilizados por todos os protestos com a presença de mascarados que descambam para a selvageria. Como resultado,  a polícia tem ganho carta branca para  deter qualquer   " mascarado" e  veículos da imprensa tem propagado uma campanha que, de modo mais ou menos velado, promove manifestantes com o rosto encoberto a bandidos, afirmando ou insinuando que quem o cobre deve esconder, por trás de lenços etc,  até o quê Deus duvida.
    A caçada aos mascarados, aliás, arrancou, provavelmente, tanto aplauso da audiência que os profissionais se esqueceram de, ultimamente, informar que muita gente tampa o rosto em protestos apenas para se proteger das bombas de gás lacrimogêneo e de pimenta que são atiradas pela PM.
    Não bastasse, os blocks que, aparentemente, acham que vão abalar as estruturas do sistema por depredar alvos escolhidos a dedo, ganhou até a desconfiança de alguns ativistas, que suspeitam de que eles se lançaram e se tornaram figurinha tarimbada em protestos com o intuito de inibir o ânimo da população de tomar as ruas, em peso, em defesa e/ou conquista de seus direitos. Feito, aliás, que deve ser creditado ao exemplo dado pela rapaziada do Movimento Passe Livre, que, como se sabe,  brigou, bravamente,  pela suspensão do aumento da tarifa de ônibus,  comoveu o coração da opinião pública e promoveu, no mês de  junho, a maior e mais transgressora onda de protestos que já desaguou neste país.
    A suspeita sobre os blocks que, ao meu ver, sempre esteve longe de ser uma suposição de mentes delirantes, cedeu, graças a esse episódio, espaço para outra hipótese: parte das depredações atribuídas aos Block podem ter sido, pelo menos, iniciadas por infiltrados. Mas, como reza o dito popular, eles criaram a fama e, agora, responsáveis ou não por todos os quebra-quebra,  deitam na cama.
    O máximo que se pode desejar é que, na próxima, os Blocks peguem, novamente, um infiltrado no pulo e o ponha pra correr, e repense sobre essa tática, que, ao meu ver, no momento,  não contribui e ainda pode comprometer as recentes conquistas de quem vai pra rua lutar por direitos e sonhos. E, de quebra,  fazer do slogan, la beautè est dans la rue, de maio de 68, uma verdade irrefutável.
    Afinal, a  beleza está na rua mesmo, e, diga-se de passagem, também, vai salvar o mundo - como observou uma personagem de O Idiota, de Dostoiéviski.