a rua é da gente

a rua é da gente

sábado, 5 de outubro de 2013

Astros do movimento anticorrupção e suas licenças poéticas: non passera


 Foto: churrasco na OPB, Ordem dos Parlamentares do Brasil, do início de 2012. Da esquerda pra direita: Marcos Maher ( camiseta azul e criança no colo). Na fila atrás, Dennys Serrano ( camiseta azul e atrás do homem forte de boné), ao lado, Marcello Reis ( camiseta azul e de boné) e a "ruiva" Carla Zambelli .


     Já que o vento também não soprou a favor nas velas da direita, o Partido Militar Brasileiro (PMB) vai ter de adiar o sonho de criar sua legenda e ingressar na cena da política institucional brasileira para desgosto dos doubles de lideranças do movimento anticorrupção e liga repaginada das senhoras católicas.  Que, diga-se de passagem, perderam a chance de talvez contar com essa mãozona e tanto para varrer a corrupção no Legislativo e Executivo e blindar a sociedade do perigo vermelho.
   Fãs de carteirinha da PM, que, vira e mexe, publicam posts em apoio à repressão policial em manifestações,  e com mentes arejadas por lufadas vindas da Idade Média, eles enchem a boca para exigir justiça, falar em  liberdade, democracia e citar o nome  Dele em vão, mas exibem uma trajetória repleta de licenças poéticas.
   Esses combatentes incansáveis dos larapios dos cofres públicos e da impunidade, que, a propósito, se recusam marchar ao lado dos LGBTs por atentarem contra a família e ordem social, chegaram a ganhar o reforço do suplente de deputado federal ficha suja, Dennys Serrano, (PSB) entre 2011 e 2012, e desfrutar da companhia e churrasco oferecido pelo político na sede da entidade presidida por ele ( de camiseta azul atrás do homem forte de barba e boné), Ordem dos Parlamentares do Brasil. Pouco antes, claro, dela ser fechada pelo Ministério Público por práticas criminosas, em abril do ano passado -  a entidade distribuía carteirinhas com brasão da República, solicitando a autoridades civis e militares a concessão de "trânsito livre" a seus portadores e estariam, segundo o MP, sendo usadas por criminosos.
   Não bastasse, a OPB contava, na ocasião, com uma dessas lideranças na vice-presidência: ninguém menos que Marcello Reis, (  de boné e ao lado de Serrano), criador do Revoltados Online e também integrante da UCC, União de Combate à Corrupção, OCC, Organização de Combate à Corrupção - que reúnem diversos grupos anticorrupção e/ou outros - entre n grupos.
     As ligações inusitadas entre Serrano e essa turma são, mais ou menos, conhecidas por parte dos ativistas do movimento e renderam uma saia-justa ou outra. Mas,  graças, a habilidade deles em lançar mão de seus embargos infringentes para contornar assuntos inconvenientes e abafar escândalos, eles tanto não afugentaram membros como engrossaram fileiras de seus grupos nas redes sociais.
    Mais ainda. Convenceram meio mundo que não tinham qualquer envolvimento e/ou feito aliança formal com o político ficha suja, apesar de posts que provavam o contrário, e, detalhe, propagados por  alguns deles mesmos. Os grupos Revoltados Online e UCC dispararam posts em que anunciavam essa parceria, além de vídeo em que o suplente declarou sua  parceria com o Revoltados no combate à corrupção.
    Mesmo assim, quando à OPB caiu e a notícia se espalhou feito rastilho de pólvora, Marcos Maher,  da OCC, que prega intervenção militar, e também membro ou ex de destaque do Revoltados e UCC, decidiu tampar o sol com a peneira, dizendo que essa parceria entre eles, Revoltados, UCC e Serrano/ OPB,  estava, na verdade, em processo de análise. E, o surpreendente, é que muita gente acreditou.
   Esse, digamos assim, flerte também passou despercebido por veículos da imprensa, que  apesar de terem noticiado o escândalo da OPB, aparentemente, ignoram que esses ativistas anticorrupção tiveram relações mais ou menos próximas com Serrano e entidade. Tanto é que, pelo que eu saiba, o assunto não foi abordado em nenhuma das diversas matérias sobre esse pessoal e/ou suas iniciativas que foram publicadas em jornais de grande circulação, além de blogs e sites.
     Não se imagine que os integrantes dessa turma se simpatizem, em maior ou menor grau, apenas com militares. Alguns deles, em especial,  também nutrem sentimentos semelhantes pelo PSDB. Até ai, não há um a, e muito pelo contrário,  para se falar sobre isso até porque cada um tem o direito legítimo de ter suas afinidades político-partidárias. O problema é que, em especial alguns, vendem a imagem de tocar grupos apartidários, mas, na real, puxam sardinha para esse partido, e, às vezes, até de modo acintoso. ( obs: vou falar sobre o assunto em um próximo post)
  O intrigante, aliás, é o fato desse povo, que se destaca por promover manifestações que, em São Paulo, são um fiasco de público continuar ganhando espaços de relativo destaque  na mídia.
   No final de junho, o Estadão publicou mais uma matéria sobre atos promovidos por esse povo, tendo como entrevistados Reis e, pra variar, Carla Zambelli, criadora de o nasruas, que posa, e a se basear no que sai na mídia desde cerca de 2010, é a grande líder do movimento anticorrupção do país para espanto e indignação de muitos ativistas, considerados uns invejosos por Zambelli e seu  fã-clube por não atraírem os flashes e serem, praticamente, ignorados pela mídia em geral.
   Pode-se dizer, inclusive, que o blog de Augusto Nunes, Estadão e O Globo deram uma maõzinha, sem nenhuma intenção, claro, para aproximar  Zambelli, e, no rastro,  Reis e demais de Dennys Serrano. É que essas publicações de prestígio, ao contribuir para tirar Zambelli do ostracismo e promovê-la a grande líder do movimento, pavimentou o terreno para que ela fosse procurada por um cientista que queria denunciar, inclusive, lhe entregando algumas provas, as proezas do político ficha-suja e irregularidades da OPB.  No caso, uma pilha de processos movidos por vítimas lesadas financeiramente por ele,  uma certidão da rejeição de contas do suplente emitida pelo TRE, entre outras.
   Zambelli, de posse do material, não se fez de rogada e no dia seguinte publicou um post no nasruas que, além de conter essas provas, anunciava:  Dennys Serrano, o deputado federal corrupto. A chamada, claro, apesar de equivocada por Serrano ser, na verdade, suplente -  provocou o maior alvoroço e pronto: Zambelli, Reis e outros decidiram fazer uma manifestação em frente à OPB.
  Este ato, no entanto, não apenas não ocorreu, como, também, pouco depois, pasmem, os integrantes do movimento anticorrupção se depararam com a seguinte novidade: a declaração de Serrano, em vídeo, de que havia se unido ao Nasruas na luta contra à corrupção. ( obs: tenho o print da discussão no meu email sobre essa discussão e vou publicá-lo assim que alguém me ensinar a fazer tal operação).
   O vídeo, claro, caiu como uma bomba  e motivou uma operação de guerra para blindar Zambelli, que envolveu, basicamente, três ações: a produção de um vídeo em que Serrano  esclareceu que havia se confundido, e, na verdade, a parceria era com o Revoltados Online e não com o Nasruas, um grupo que se diz apartidário e avesso a qualquer associação com políticos, seguida de outro vídeo em que Zambelli dava explicações sobre o mal-entendido e inocentava o suplente da acusação de corrupto feita por ela no post.
    E, por fim, uma campanha no face que, além de livrar o político dessa calúnia, matou dois coelhos com uma cajadada só: inocentou Zambelli da, digamos assim, leviandade de ter acusado Serrano de corrupto quando, na verdade, ele só tinha processos de dívidas pessoais. E desqualificou e desmoralizou o cientista, que , basicamente, havia usado o movimento para se vingar do calote levado do político. ( obs: alguns desses vídeos estão no youtube)
   O cientista, de fato, abriu o bolso e não foi pago, até algum tempo atrás, pelo menos,  pela grana emprestada ao político. Agora reduzir suas denúncias a uma mera desavença pessoal foi uma dessas distorções que se comete, propositalmente, para converter mocinho em bandido e vice-versa. O pior é que, claro, muita gente caiu em mais esse conto-do-vigário.
   Cabe esclarecer que o cientista conheceu Serrano logo após faturar o Prêmio Abril Sustentável, concedido pela  Editora Abril , ganhando uma homenagem pelo feito da OPB, e , em seguida, convidado pelo político a integrar o quadro de conselheiros da OPB. Ele, evidentemente, aceitou ao convite, e acabou tendo conhecimento de n informações sobre Serrano e OPB, que repassou à Zambelli.
    E, pelo que eu saiba, sem interferência do cientista, elas chegaram ao Ministério Publico, que levaram, como já disse, ao fechamento dessa entidade, criada em 1976 e composta, basicamente, por políticos de pouca expressão,  por práticas criminosas.

Obs: Não citei o nome do cientista neste post porque, apesar de, no passado, ter me autorizado, inclusive me enviado material sobre o assunto, não consegui falar com ele agora para pedi-la novamente, mas publiquei o post porque esses fatos foram, inclusive, divulgados por ele em n grupos de combate à corrupção do facebook.  Falei sobre esse pessoal em posts anteriores: Aos jovens idealistas, Solla, Nahor e Ale, e à princesa Alice, As penas dos pavões voaram na Pauliceia Desvairada e Avisa lá pro Obama: Brasília e Rio Preto são puro jazz, e Washington Carvalho é o cara.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O troféu de perfomance em manifestação vai .....para soldado da PM do Rio de Janeiro





        vídeo compartilhado por Alexandre Mendes,do grupo Universidade Nômade
                                                                         
       Quando se pensa que agentes da repressão já esgotaram o repertório de atrocidades  para, digamos assim, conter manifestações, eles se superam e brindam a plateia com mais um espetáculo de estarrecer os ânimos mais habituados com o uso abusivo de autoridade e  força policial.
     Tanto é que as cenas do vídeo acima, produzido pelo Coletivo Mariachi, mostram que a passeata organizada por Black Bocs em apoio aos professores em greve, no dia 1/10, à noite, no centro do Rio de Janeiro, virou palco para soldados da PM exibirem uma perfomance digna de ganhar uma indicação ao Molière de covardia e descontrole do ano.
      Bastou um gaiato, suposto policial infiltrado, os chamados P2, arremessar uma pedra, quebrando  a porta de uma agência bancária no início da passeata, que, vale ressaltar, foi pego no pulo e impedido de fazer mais lambança pelos blocks,  para PMs começarem a descer o cassete em qualquer um a troco de nada.
      O rol de vítimas da fúria fardada, como sempre, inclui  advogados, fotógrafos e jornalistas, como Cláudia Castello, integrante do Coletivo, que levou um golpe na barriga. Agora, quem ganhou a cena e merece faturar o troféu Molière é o soldado que, após ouvir de um manifestante que eles haviam batido em um advogado, aos 7 minutos do vídeo, soltou, em alto e bom som, a pérola: " F... o advogado! F....! ". O descaso, a propósito, se afina perfeitamente com a conduta de quem bate e de quem manda reprimir com rigor atos de protesto de professores, que cometeram a audácia de se rebelar contra o plano de cargos e salários, sancionado no dia seguinte, 2 de outubro, pelo prefeito Eduardo Paes.  
     Inversão do papel da polícia à parte, o fato do ato de vandalismo do infiltrado deflagrar a ação violenta da PM nessa manifestação serviu pra mostrar aos blocks que eles correm o risco de ser traídos pela tática. Adeptos da ação de depredar  bancos e outros símbolos capitalistas em resposta à repressão policial, entre outros motivos, eles poderiam, e ao contrário do que ocorreu, ter perdido o controle da situação, que, provavelmente, renderia uma quebradeira geral,  com o agravante da fatura entrar na conta deles.
     É que os blocks, evidentemente, popularizaram essa tática e, ao mesmo tempo, se tornaram uma espécie de reféns dessa ação levada aos protestos. Desde que entraram na cena, eles, que, a exemplo do annonymous, converteram modelo de máscara e lenços no rosto em uma marca,  tem sido responsabilizados por todos os protestos com a presença de mascarados que descambam para a selvageria. Como resultado,  a polícia tem ganho carta branca para  deter qualquer   " mascarado" e  veículos da imprensa tem propagado uma campanha que, de modo mais ou menos velado, promove manifestantes com o rosto encoberto a bandidos, afirmando ou insinuando que quem o cobre deve esconder, por trás de lenços etc,  até o quê Deus duvida.
    A caçada aos mascarados, aliás, arrancou, provavelmente, tanto aplauso da audiência que os profissionais se esqueceram de, ultimamente, informar que muita gente tampa o rosto em protestos apenas para se proteger das bombas de gás lacrimogêneo e de pimenta que são atiradas pela PM.
    Não bastasse, os blocks que, aparentemente, acham que vão abalar as estruturas do sistema por depredar alvos escolhidos a dedo, ganhou até a desconfiança de alguns ativistas, que suspeitam de que eles se lançaram e se tornaram figurinha tarimbada em protestos com o intuito de inibir o ânimo da população de tomar as ruas, em peso, em defesa e/ou conquista de seus direitos. Feito, aliás, que deve ser creditado ao exemplo dado pela rapaziada do Movimento Passe Livre, que, como se sabe,  brigou, bravamente,  pela suspensão do aumento da tarifa de ônibus,  comoveu o coração da opinião pública e promoveu, no mês de  junho, a maior e mais transgressora onda de protestos que já desaguou neste país.
    A suspeita sobre os blocks que, ao meu ver, sempre esteve longe de ser uma suposição de mentes delirantes, cedeu, graças a esse episódio, espaço para outra hipótese: parte das depredações atribuídas aos Block podem ter sido, pelo menos, iniciadas por infiltrados. Mas, como reza o dito popular, eles criaram a fama e, agora, responsáveis ou não por todos os quebra-quebra,  deitam na cama.
    O máximo que se pode desejar é que, na próxima, os Blocks peguem, novamente, um infiltrado no pulo e o ponha pra correr, e repense sobre essa tática, que, ao meu ver, no momento,  não contribui e ainda pode comprometer as recentes conquistas de quem vai pra rua lutar por direitos e sonhos. E, de quebra,  fazer do slogan, la beautè est dans la rue, de maio de 68, uma verdade irrefutável.
    Afinal, a  beleza está na rua mesmo, e, diga-se de passagem, também, vai salvar o mundo - como observou uma personagem de O Idiota, de Dostoiéviski.