a rua é da gente

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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Rafinha Bastos: enfant terrible?

   Prometi que meu próximo post seria sobre os grupos que promovem marchas contra a corrupção através das redes sociais, mas não consegui concluí-lo no devido tempo e resolvi publicá-los alguns dias antes da próxima marcha, marcada para 15 de novembro
    Embora umquedetransgressao.blogspot seja um blog de reportagens, eu não resisti a tentação de escrever um post sobre Rafinha Bastos, do CQC, da Band, que provocou mais um fuzuê por causa de suas piadinhas de péssimo gosto. Se é que se pode classificar a coisa que disse em relação à Wanessa Camargo, que comeria a cantora e o bebê, de piada. Como resultado, pelo que li por aí, Rafinha Bastos ganhou uma suspensão da Band e, em seguida, pediu demissão da emissora, aparentemente, para não ter que abaixar sua crista  e se desculpar pela língua tresloucada.
    A reação de Rafinha ao puxão de orelha da emissora lhe rendeu até elogio. Um colunista, que também abomina essas suas piadas, admitiu que sentiu uma certa admiração pelo humorista por ele ter se recusado pedir desculpas apesar de correr o risco de perder vultuosos contratos etc. Mas, pelo que havia lido anteriormente, o enfant terrible do humor, ou que posa de, chegou a se desculpar durante a exibição do programa seguinte ao que soltou aquela pérola sobre Wanessa e o bebê. Então, das duas, uma: ou o propagado pedido de desculpas não passou de boato ou os envolvidos no imbróglio querem que Rafinha Bastos se penitencie e dê uma explicação razoável por ter falado tamanho impropério, talvez, para facilitar as negociações em nome de um bem comum. Sem falar que esse episódio, também , pode ser apenas mais um happening para alavancar os negócios.
     Afinal, pode-se falar o diabo de Rafinha e suas piadas de péssimo gosto, mas não se deve nunca subestimar a inteligência do humorista nem sua capacidade de conquistar aplausos de boa parte da platéia - deu no New York Time que ele é o cara ou um dos, esqueci agora, que tem o twitter mais acessado do planeta. Meses atrás, lembram-se, o rapaz, em um de seus shows de comédia, fez uma piada sobre mulheres e estupro, em que dizia que  mulheres feias que fossem vítimas de estupro deveriam agradecer a Deus, e os estupradores, por sua vez, mereceriam abraços e não cadeia. O povo, em geral, claro, caiu matando, mas o humorista tirou da cartola um argumento que calou a boca de muitos de seus detratores e, de quebra, reconquistou parte da platéia: " se os comediantes tiverem que responder por toda piada que fazem, não vão ter tempo pra fazer nada na vida nem piada".
    Mais ainda. Com esse argumento, ele questionou o rumo do humor brasileiro e provocou uma espécie de catarse em quem torce o nariz para o discurso politicamente correto.
      Para mim, no entanto, há uma diferença básica entre essas coisas que ele disse e uma piada politicamente incorreta: a piada me faz rir e essas supostas tiradas de humor politicamente incorreto me provoca náuseas,urticária, diarréia. Eu, por exemplo, morro de rir com essas piadas machistas sobre mulheres e, em especial, às loiras. Quanto mais infames, mais engraçadas. Até porque é preciso ter um certo tipo de inteligência, percepção e sensibilidade para ser capaz de ter determinadas sacadas inusitadas e divertidas. Qualidades que, a meu ver, poucos tem.
     Enfim, nada contra o humor polticamente incorreto. O que, na minha opinião, não foi o que Rafinha Bastos fez no caso da, entre aspas, piada sobre o estupro. Nem a piada, entre aspas, que ele fez, sobre o estado interessante de Wanessa Camargo. Em ambos os casos, ele fez, simplesmente, um comentário grosseiro, ofensivo e totalmente sem graça.
    O que ainda me choca nessa história toda é ler comentários de profissionais de TV etc lançar mão desses fuzuês envolvendo Rafinha Bastos para erguer uma bandeira em defesa ao discurso politicamente incorreto. Como, pra mim, essas piadas do humorista não tem nada ver com o que eu entendo por politicamente incorreto, acho que estão, na verdade, prestando um deserviço a essa causa.
     Eu, por exemplo, cresci assistindo diversos programas de humor, ouvindo todo tipo de piada politicamente incorreta e morrendo de rir de cada uma delas. Os comediantes esculhambavam meio mundo, da mulher gostosa ao anão, e todo mundo, com exceção dos cri - cri de plantão, achava graça porque ninguém se sentia ofendido. A mer ver, a intenção desses grandes humoristas era convidar todo mundo para  participar de uma brincadeira. E, como ocorre nessas brincadeiras, cada dia a gente escolhe um para Cristo, e, no final, todo mundo é escrachado.
    Graças, também, a essas piadas politicamente incorretas, eu aprendi que, no frigir dos ovos, não há lá muitas diferenças entre mim e a beata, e a kenga, a rica fresca, a pobre sofredora, a intelectual, a cadeirante e a musa da estação, entre outras. Afinal, somos todas, cada uma com seu cada um, um prato cheio para esculhambação. E eu, que não sou humorista nem estudiosa do humor  brasileiro etc, aprendi, com base na leitura que fiz dos gênios do humor brasileiro, a diferenciar uma piada de péssimo gosto de uma politicamente incorreta. E como já disse,  essas piadas de Rafinha não tem nada de politicamente incorretas. São pura e simplesmente, grosseiras e sem um pingo de graça.
     Eu lamento é que os rafinhas da vida, profissionais inteligentes e talentosos, no afã de ter que agradar o apetite insaciável da platéia, clamando por uma tirada atrás da outra, e melhor que a outra, dêem às costas a muito do que estão carecas de saber para cair nessa esparrela toda.  Talvez essa piadinha de Rafinha sobre Wanessa lhe custe um preço salgado, talvez a platéia até goze com esse marfuá todo e queira Rafinha hoje, amanhã e sempre. Pensando bem, esse fuzuê todo combina muito bem com quem faz um programa chamado Custe o Que Custar. Eloisa Deveze.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Meu dia de Caetano Veloso

     Acompanho o blog de alguns jornalistas e fico impressionada com a capacidade que alguns leitores tem de deturparem o que foi dito, a propósito, claramente, nos posts. Com o passar do tempo, eu concluí que parte dessa confusão, na verdade, é proposital. Os motivos, suponho, são diversos, mas não vou tratar dessa questão agora.
     Ontem, aconteceu algo semelhante comigo. Pretendia inaugurar o blog com um post sobre os grupos que estão promovendo marchas contra a corrupção através das redes sociais. Mas, eu decidi escrever esse post hoje - apesar de meu blog não estar pronto - por causa do que aconteceu comigo ontem. Como queria escrever um post sobre esses grupos, eu enviei para os emails dos grupos uma série de perguntas semana passada, mas não obtive retorno.
    Resolvi, então, postar algumas de minhas perguntas no mural de o NASRUAS. Dois integrantes, no entanto, além de não respondê-las - até aí, ninguém é obrigado a responder nada -  preferiram fazer uma série de suposições absurdas.Uma disse que eu era suspeita por não mostrar a minha cara no facebook - não publiquei minha foto, simplesmente, porque não sei como fazê-lo. Nada contra minha cara nem em  me mostrar -  e o outro, que eu devia ser uma petista corrupta com a intenção de tumultuar o ambiente de o NASRUAS.
   A partir desse momento, eu comecei a ser desancada por um monte de gente que nem sequer havia lido minhas perguntas. Tentei esclarecer os equívocos e, talvez, tenha me excedido. Sei lá. Não sou nem nunca fui uma pessoa, digamos assim, de praticar política de boa vizinhança e falei o que eu sentia.   De imediato, eu me lembrei de uma experiência vivida por Caetano Veloso - e, por favor, não sou ninguém para me comparar a esse grande artista - quando se apresentou em um festival no TUCA. Caetano foi vaiado, provavelmente, por não concorrer com uma típica canção de protesto e soltou o verbo, dizendo, basicamente, para o público: se vocês entenderem de política como entendem de estética, nós estamos fritos. Parodiei essa declaração de Caetano e pronto: virei o alvo do achincalhe do dia. Tudo se tornou motivo para eu ser esculhambada em praça pública, até mesmo o fato de eu ter poucos amigos no facebook - eu, para ser franca, mal sei me movimentar no face.
   Enfim, eu deixei de me sentir uma Maria Madalena quando um rapaz, Francisco Sollas, de 18 anos, de Salvador, percebeu que  eu não era o dragão da maldade, me socorreu e disse que eu deveria procurar Decio, um dos criadores/fundadores de o NASRUAS, para obter as informações que precisava para escrever o meu post. Foi, então, que eu comecei a receber as informações que precisava para escrevê-lo. Mais ainda: alguns integrantes até se desculparam por esse entrevero todo.
     Agora, estou lendo os emails de integrantes dos grupos NASRUAS e BRASIL-UNIDO CONTRA A CORRUPÇÃO para escrever sobre essa marcha. Muito obrigada mesmo pela colaboração. Sem vocês, eu não poderia fazê-lo. Como, afinal, eu vou escrever uma reportagem sobre um determinado assunto sem falar com as pessoas envolvidas? E se eu faço alguma pergunta inconveniente para um entrevistado, cabe a ele me ajudar esclarecer minhas dúvidas. Muito obrigada por tudo. O próximo post será, justamente, sobre essa moblização nacional contra a corrupção, promovida pelos grupos nas redes.   Eloisa Deveze