a rua é da gente

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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Aos Caras de Pau, nem sequer as castanhas!

     O Pólo Norte está fervendo com as últimas peripécias de Papai Noel. O bom velhinho deu uma banana  para quem se comportou mal durante o ano e, com bem menos trabalho que em séculos anteriores, não teve dúvidas: se mandou para as ilhas dos mares do sul em plena semana natalina. De lá, ele só sai na véspera de Natal, a bordo de seu trenó, para presentear o pessoal, dos quatro cantos do mundo, que ficou de fora de sua lista negra, guardada à sete chaves. Soube que um ou outro até tentou por a mão nela, mas os atrevidos levaram um belo coice de rena.
     Resolvi fazer a minha listinha, que, também, inclui nomes de figuras que me chatearam em 2011 e sugestões de presentes de grego.
      1 - Os ex-homens da presidente Dilma Roussef que são acusados e/ou suspeitos de passar a mão no dinheiro público. Antonio Palocci, ex-chefe da Casa Civil, Alfredo Nascimento, ex-ministro dos Transportes, Wagner Rossi, da Agricultura, Pedro Novais, do Turismo , Orlando Silva, dos Esportes e Carlos Lupi, do Trabalho, até já foram presentados com a perda de seus cargos. Mas, se as acusações e suspeitas forem confirmadas, eu sugiro que também ganhem de natal uma bela temporada na cadeia, acompanhada pelo confisco de seus bens. Que, claro, seriam devolvidos ao povo brasileiro.
     Alguns objetos, aliás, como jóias, obras de arte, limoges,  roupas e acessórios de marcas carésimas podem ser distribuídos para a população. Já pensou vestir as peças do closet da família desse pessoal para ir todo trabalhado na elegância e na riqueza em um churrasco com pagode na lage? Afinal, o povo gosta de luxo, como dizia o genial carnavalesco Joãozinho Trinta.
     2 - A deputada federal Jacqueline Roriz que foi pega com a boca na botija, e os 265 deputados que a absolveram do processo de cassação de seu mandato. Para ela, sugiro cadeia e confisco dos bens. Já, para os deputados, apenas o confisco de todos os seus bens.
     3 - O prefeito Kassab, de São Paulo, que se beneficiou com o aumento salarial de mais de 200%. Como é natal, eu espero que os moradores da cidade façam a gentileza de trocar esse presente inadequado por algo que, realmente, atenda as necessidades do prefeito: no caso, uma maravilhosa ordem de pagamento no valor de um salário-mínimo mensal.
      4 - A enfermeira Camila Corrêa que maltratou e, em seguida, matou o seu cãozinho. Para ela, a sugestão é 15 nos de trabalho voluntário em um canil de pitbuls rebeldes. Ela vai ter o prazer de alimentá-los, lavá-los, medicá-los e distraí-los, sob supervisão e vigilância constante de um estudante de veterinária, representante xiita de uma ong de defesa dos animais e um policial em companhia de seu parceiro, um pastor alemão muito bravo.  
      5 - O deputado Jair Bolsanaro que produziu um arsenal de declarações homofóbicas, racistas e desrespeitosas de tirar o fôlego ao longo do ano. De presente, a sugestão é o papel de protagonista da peça Gaiola das Loucas, dirigida por um transsexual e apresentada na melhor casa GLT de Brasília.
      6 - A patrulha de chatos que voou no pescoço do ator Caio Castro por ele ter declarado, a revista Quem, que preferia levar fama de pegador que de gay. Para ela, eu sugiro uma entourage de cricris de plantão para vigiar e criticar o seu comportamento 24 horas por dia.
      7 - O estilista John Galliano que insultou judeus e confessou seu amor à Hitler em um bar em Paris. A figura, como se sabe, já ganhou presentes de natal adiantados, como processo e demissão da Dior, mas ele merece, pelo menos, uma lembrancinha para a data não passar em branco. Sugiro 6 meses de trabalho escravo em uma  oficina de costura.
      8 - A nova rica Val Marchiori que fez questão de ganhar fama por torrar cerca de 70 mil Reais em apenas uma tarde de compras e de tratamentos básicos de beleza. A moça já foi presenteada com matéria de capa em Vejinha, SP, emprego de repórter no programa de Amauri e um reality, em processo de realização. Como lembrancinha, sugiro uma legião de fãs famintos que vão acompanhar a socialite em todas as suas tardes de comprinhas.
     9 - Lady Gaga que trajou um vestido, confeccionado em tiras de bifes, em uma cerimônia de premiação musical. De presente, eu sugiro uma turnê de shows ao lado de Roberta Flack - compositora de um hit na internet e campeã de acessos do youtube. Nela, Gaga só vai cantar o repertório da musa musical da internet.
    10 - Justien Bieber que, além de exibir um lambido corte de cabelo, abduziu uma legião de adolescentes e crianças. Entre elas, Pedro, um moleque de 7 anos, bom de bola, que desperdiçou seu talento musical e arranhou suas cordas vocais para cantar o hit do ídolo adolescente. Para ele, eu sugiro um quilo de bacalhau e um abacaxi, entregues ao astro por um sósia de Chacrinha - o já falecido e famoso apresentador e animador de programas de auditórios dos anos 70 e 80, que atirava esse peixe na plateia e dava essa fruta aos calouros.
    11 - Rafinha Bastos que é o autor do repertório de piadas mais grosseiras e sem graça do ano. O humorista que tirou sarro, de modo cruel, da dependência química do ator Fábio Assunção, insultou vítimas de estupro e revelou a sua admiração por estupradores de mulheres feias, dizendo que mereciam um abraço e não cadeia. E, por fim, soltou uma pérola ao se referir a gravidez de Wanessa, dizendo que comeria a cantora e o bebê,  é outro que já recebeu todo tipo de presente: de processos à contrato de trabalho na Fox e milhões de seguidores no twitter. De natal mesmo, eu sugiro um stand up de piadas sobre Rafinha Bastos, criado e interpretado por um humorista com a mesma popularidade, verve e talento para fazer esse tipo, digamos assim, de humor.        
    12 - Sara Sheeva, filha do guitarrista e cantor Pepeu Gomes e da cantora Baby do Brasil, ex- Consuelo, do extinto Novos Baianos, que virou pastora e prega abstinência sexual antes do casamento. De presente, eu sugiro encontros semanais com a Liga das Senhoras Católicas e participação ativa na produção e realização de marchas da família pela liberdade em diversas cidades brasileiras ao longo do ano de 2012.
   13 - Luciano Huck que achou que era dono de uma porção de mar e, simplesmente, cercou de bolas a faixa costeira ao longo de sua casa na ilha das Palmeiras, em Angra dos Reis. O que lhe rendeu uma multa de 40 mil Reais. Diante de tal presentinho singelo, acho que o apresentador merece receber mais uma lembrancinha. Já que ele gosta tanto de táxi, eu proponho que Huck cumpra o expediente de 8 horas de trabalho em uma frota.
     Essas são as figuras que estão na minha listinha. Quem está na de vocês? Enviem sugestões para a gente elaborar um listão.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Kit Anti-Homofobia: desafia e municia o preconceito

 
     É sempre o mesmo discurso: entra ano e sai ano, e não há avanço tecnológico, Primavera Árabe, Parada Gay nem tsunami que soterre velhas crenças acerca de a homossexualidade - orientação sexual de quem sente atração sexual e/ou afetiva por pessoas do mesmo sexo, independente de sua vontade. Ainda tem gente que confunde essa condição sexual com perversão e/ou jure de pés juntos que falar do assunto em sala de aula vai induzir muito aluno a virar gay. Não bastasse, as tentativas de jogar uma luz sobre essa questão espinhosa, vez ou outra, provocam um curto-circuíto danado e pronto: a homossexualidade dá meia volta e retorna para o escurinho do armário.
  Tanto é que o chamado Kit Gay 1, com vídeos polêmicos, que ganhou veto presidencial e torceu o nariz até de quem ergue a bandeira da diversidade, deu um belo empurrão para manter o debate sobre a homossexualidade e a homofobia bem longe do portão da escola. (obs: Assista o 1º vídeo à esquerda: um bom exemplo de combate ao preconceito sexual)  Com a recente retomada do projeto anti-homofobia, a maioria dos internautas que discutiram a iniciativa nas redes sociais fez coro a boa parte dos argumentos sacados pelo deputado Jair Bolsanaro, e não ao seu insólito repertório de ofensas, para abatê-la.
    A iniciativa, aliás, tem tirado o sossego de muita gente por razões que dariam pra encher um rosário. Vou destacar as duas que ganharam mais terreno no espaço virtual. O medo de que os filhos e adolescentes, em geral, se tornem gays é o primeiro, e o principal, a ocupar o travesseiro e ameaçar o sono dos internautas que participaram das discussões.
   O receio até se explica: como crianças e adolescentes são considerados inocentes, conta o psiquiatra Alexandre Saadeh, do Hospital das Clínicas, acredita-se que se deixam influenciar facilmente. Ocorre que eles podem, sim, ser influenciáveis em alguns casos, mas, em relação a orientação e identidade sexuais, essa influência não existe. " As pessoas tem essas características definidas entre os 4 e 5 anos de idade. E elas são imutáveis".
     De fato. É que, ao contrário do que muitos pensam, a homossexualidade, e outras orientações sexuais, independe de nossa própria vontade. Ou seja, ninguém escolhe desejar Vítor ou Vitória, como também não muda sua identidade e orientação sexuais para ficar gay, heterossexual, bissexual etc ao sabor dos ventos ou por falar livremente sobre essa questão -  uma entre tantas outras que ainda não foi decifrada pela ciência.
     O que se acredita, revela Saadeh, é que a homossexualidade não tem causas definidas e resulta de uma combinação de fatores biológicos,psicológicos e ambientais. " Não há nada no funcionamento do corpo que explique o desejo sexual por pessoas do mesmo sexo", afirma o psiquiatra, esclarecendo que ela é apenas mais uma característica na personalidade, que não acrescenta nem elimina nenhuma outra.
     Outra razão que perturba os ânimos é a interferência do Estado, através desse kit anti-homofobia, na educação de seus filhos. A queixa, por sua vez, dá margem a muita reflexão e por motivos muito simples: a tarefa de educar os filhos é dos pais, mas a escola sempre desempenhou um papel fundamental na educação, que foi muito além do ensino de um punhado de disciplinas. Então, a princípio, ela não foge de seu script secular ao tratar de assunto a ou b.
     Se ela tem carta branca, por exemplo, para ensinar o que é corrupção, como sugeriu alguns internautas, por que ela não pode explicar o que é a homossexualidade? Porque cabe aos pais dar formação moral aos filhos, dirão alguns. No mundo ideal, todos estão aptos a transmitir aos filhos informações e valores para  torná-los cidadãos melhores e com menos preconceitos. Mas, no real, muitos nem sequer ficam à vontade para conversar sobre a sexualidade com suas crias.
    Para esses, o kit anti-homofobia não deixa de ser uma mão na roda, em especial, hoje em dia, com essa onda de violência: cada vez mais se vê gente muito jovem , e ao contrário do que ocorria anos atrás resolver suas diferenças com homossexuais, entre outros,  à bala, facada ou qualquer objeto que, se não mata ou ameça à vida, fere um bocado.
     Diante do cenário atual, o kit anti-homofobia continua sendo, sim, uma interferência do Estado, mas ela é, como diz Saadeh, bem-vinda. Afinal, homofobia, apesar de não ser um crime, já que o projeto de criminalização ainda tramita no Congresso, tem motivado um punhado de crimes previstos no Código Penal. " O que precisa ser discutido não é a validade do papel do Estado, mas a forma que ele tem feito isso" afirma ele, e finaliza: " O Estado deve começar a tratar da questão de combate a homofobia com os pais e professores e, depois, com os alunos".
     É por essas e outras que é preciso parar de derrapar na hora de abordar temas espinhosos, como a homossexualidade: senão, em vez de minar o preconceito, as informações vão é municiar os Bolsanaros do mundo.
Obs: Quem quiser postar um comentário e precisar clicar na opção anônimos, por favor, se possível, deixem o nome e o email no corpo da mensagem. Obrigada, Eloisa.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Só combato a corrupção se Juliana Paes me intimar!

    Para quem ainda não sabe: celebridades globais estão sendo cobradas a fazer um vídeo que estimule brasileiros a se mobilizar contra a corrupção depois que emprestaram imagem, voz e carisma em outro para contestar a construção da usina hidrelétrica Belo Monte - esse vídeo, produzido pelo Movimento Gota D'Água que reivindica a paralisação desse atentado ao meio ambiente pode também ser visto no blog de Augusto Nunes, em Veja. Vale ressaltar que, em função dessa iniciativa,  foram massacrados por meter o bedelho nesse assunto pelos que se consideram os donos das causas ambientais desse país.
    Essa cobrança escancara que, apesar de todo brasileiro ser vítima dessa roubalheira, precisa levar um empurrãozinho de artista famoso para se animar a combater esse mal.
   Não basta ficar sem saúde, educação, segurança e comida por causa dessa prática nociva e sinistra. Nem ver seus iguais tomar às ruas para combater a impunidade dos irmãos metralhas que nos roubam nada menos que 85 bilhões de Reais todos os anos - como revelou matéria de Veja. É preciso ouvir da boca de astros e estrelas globais que se deve se manifestar contra a corrupção. Porque se Juliana Paes, Maitê Proença e Murilo Benício não chamar o povo na chincha, muita gente não vai trocar o sofá para protestar por aí. Ou seja: a culpa por muitos não marcharem contra a corrupção é da Juliana, Maitê  e Benício.
   Afinal, que culpa a gente tem por ser acomodada, desinformada e só fazer o que artista fala para fazer? Que culpa tem o Estado por não ter oferecido uma boa educação que permitisse, pelo menos, saber como se defender desses pulhas que, a propósito, vivem às nossas custas? Que culpa tem Ongs, Organizações Não-Governamentais, e outras entidades que até recebem verbas de governos para ajudar  muitos de nós a sair do atoleiro da ignorância e não encontram soluções para nos tirar dessa escuridão? Que culpa tem até o próprio movimento contra a corrupção, que não explicou porque a gente precisa marchar contra essa prática que nem sei direito do se trata nem como prejudica a minha e a vida de tantos outros?  A culpa por a gente não lutar contra a corrupção é dos astros e estrelas globais.
   Se a mocinha da novela das 7h e o galã da novela das 9h não fazem um vídeo que conteste a corrupção,  essas marchas de protesto, que se vê nas ruas, então, não devem ser um troço lá muito importante.
   Agora, me digam, por que uma celebridade deveria fazer um vídeo que estimulasse a população a se mobilizar contra a corrupção? Por que uma celebridade é, praticamente, obrigada a abraçar e prestar serviços a essa causa?  Celebridade é uma espécie de instituição criada para atender às necessidades da sociedade do modo, na hora, como e quando alguém quer? Por quê?
  Vamos combinar: ninguém está cobrando que celebridades se engajem nesse combate a corrupção porque são brasileiros e, como tal, e em especial por serem informados, tem responsabilidade social de lutar contra esse mal que compromete a qualidade de vida da sociedade. Pelo que eu saiba, ninguém também procurou celebridades para saber sua opinião sobre  propostas e ações desse movimento. Nem sequer pediu que elas participassem de um vídeo. Até porque se alguma tivesse se recusado a colaborar todo mundo já saberia. Por que, então, elas são intimadas a ter essa iniciativa? Ora, porque são os melhores garotos-propaganda do mercado!    
  Sejamos francos. Alguém está interessado, realmente, em saber o que as celebridades, em especial as globais, pensam ou deixam de pensar sobre essa movimentação toda? Conhecer os motivos que as levaram a não produzir, por exemplo, um vídeo até o momento? Aparentemente, não.O que se quer, simplesmente, é que elas lancem mão da fama e do afeto da população, conquistados graças ao seu trabalho, principalmente, em emissora de televisão, para levá-las a lutar contra a corrupção.
  Que a causa é nobre e importante são favas contadas. Que artista tem responsabilidade social?  Também não é novidade. Mas a mocinha da novela das 7h nem o galã, da novela das 9h, não são obrigados a cumpri-la do modo, como e quando se decidiu que deveriam cumpri-la.  Ou será que são?
  O inconveniente é que muita gente depende do aval de mocinhas e galãs para tomar a iniciativa de lutar para ver o seu dinheiro investido em escolas e hospitais e não na mansão e no caixa de campanha de uns e outros. Se eles não derem um puxão de orelha nesse povo e essas marchas se esvaziarem , a culpa é capaz  de recair  no ombro deles. Fala sério!

sábado, 19 de novembro de 2011

Olha aí o pessoal da marcha contra a corrupção.... gente

     Nasruas, Caras Pintadas, Unidos Contra a Corrupção, Movimento Nacional Contra a Corrupção e Consciência, Voz e Ação: Movimento Popular Livre são 5 entre os cerca de 25 grupos que tem tomado às ruas de dezenas de cidades para puxar marchas contra corrupção e promover desfiles da cidadania no território nacional. É com as bandeiras da aprovação/constitucionalidade da lei da Ficha Limpa, do fim do voto secreto no Congresso e da inclusão da corrupção no rol dos dos crimes hediondos, que eles tem travado uma batalha contra essa prática criminosa, com o auxílio luxuoso das redes sociais, para bani-la do setor público. Ou, pelo menos, " controlar a roubalheira", como diz Francisco Solla, do Nasruas.
    O que, a meu ver, já renderia um belo samba - ainda mais depois de ler a ótima matéria Vingança contra os corruptos, de Veja. Os mãos leves dos governos desviam, anualmente, nada menos que 85 bilhões de Reais do nosso dinheiro dos cofres públicos para seus bolsos, bolsas e cuecas para incrementar o patrimônio pessoal e rechear os caixas das campanhas eleitorais. Quantia que, de acordo com a reportagem, seria suficiente para resolver os principais problemas do país e acelerar o seu desenvolvimento. Senão fosse, claro, pelos irmãos metralha que, ao que tudo indica, julgam um desperdício torrá-la em, por exemplo, leitos hospitalares e escolas, para pouparem pacientes, em estado terminal, de amargarem dias sentados em cadeiras à espera de leito e crianças de caminharem quilômetros a fio para aprender o bê-a-bá e saírem semi-analfabetas do ensino fundamental. O exemplo é píegas, admito, mas serve para dar rosto à corrupção, que não exibe nenhum traço das Giseles e Cauãs ou de qualquer outra beldade.
     " A gente cansou de esperar que nossos governantes fizessem o seu trabalho", desabafa Carla Zambelli, do Nasruas e Varre Brasil, e prossegue " e decidiu se organizar para acabar com essa farra bancada com o nosso dinheiro".
     Movidos pela indignação com a corrupção, esses grupos, com exceção dos Caras Pintadas, de 1992, surgiram ao longo desse ano e se espalharam no espaço virtual feito rastilho de pólvora - como diz personagens de novelas de Aguinaldo Silva - no rastro de um punhado de acontecimentos. Da Primavera Árabe, que destituiu do poder ditadores históricos, aos sucessivos escândalos, envolvendo  ministros em irregularidades, convidados a se retirar de seus cargos pela presidente Dilma Rouseff, passando pela acachapante absolvição de Jaqueline Roriz pela Câmara de Deputados, aquela que foi pega com a boca na botija, mas manteve o mandato e o gordo contra-cheque por ter surrupiado o nosso dinheiro antes de ser eleita deputada. É mole, mas sobe mais que Zé Simão, colunista da Folha e São Paulo, poderia desejar.
     O fato também  não deixa ninguém de queixo caído. Menos de 5% dos funcionários públicos por corrupção correm o risco de serem condenados, segundo avaliação da Controladoria Geral da Justiça. Desses, um ou outro poderá passar uma temporada na cadeia, já que a probabilidade de um corrupto ver o sol nascer quadrado é de quase zero.
     A vontade de ver esses larapios pagar pelo roubo do nosso dinheiro levou o movimento a reivindicar a inclusão da corrupção no rol dos crimes hediondos, apesar de alguns de seus integrantes não acreditarem que essa medida possa reverter esse  quadro de impunidade. Mas ela ganhou uma bandeira por ter sido a terceira proposta mais votada em uma enquete geral. "Ela é bem-vinda. Porque adiciona no combate à corrupção", afirma Karlos Bungenstab, do União Contra a Corrupção, sem omitir que é menos significante que as outras - aprovação da Ficha Limpa e voto aberto no Congresso.
     Até aí, tudo bem. O problema é outro: " Corrupção não é crime hediondo em nenhum lugar do mundo", avisa o advogado Flávio Britto, com base na doutrina de direito internacional. Como resultado, tal proposta provocaria uma briga danada entre advogados e autoridades jurídicas nacionais e internacionais.
     Mais ainda, segundo o cientista político Antônio Roberto Vigne: " Se essa ideia vinga, ela pode é beneficiar os criminosos hediondos". É que, explica Vigne, essa mudança implicaria alterações na lei que poderiam até permitir que criminosos hediondos ficassem soltos por aí.
     Britto credita parte dessa, digamos assim, cultura da impunidade ao obsoleto código penal brasileiro, de 70 anos atrás, que precisa passar por uma reforma urgente. E aproveita para dar uma sugestão para quem quer ver corrupto atrás das grades: " A solução seria aumentar a pena desse crime para oito anos e um dia".
     O advogado esclarece que condenados por crimes com penas inferiores a 8 anos podem cumpri-la em liberdade e em regime semi-aberto. E pior, como Britto diz: " O condenado por corrupção em primeira instância, que recorre da decisão, pode vir a ser inocentado da acusação". É que, explica ele, como os recursos, em geral, levam cerca de 5 anos para serem avaliados, muitos crimes, nesse intervalo de tempo, prescrevem. Como consequência, o condenado por corrupção, por exemplo, não é submetido a outro julgamento, a que tem direito, e pronto: é inocentado.
     Outra bandeira do movimento,  aprovação da Lei da Ficha Limpa, que impede políticos condenados por orgãos colegiados de disputarem cargos eletivos, encerra muita polêmica. Entre elas, a inelegibilidade de políticos que renunciaram aos seus mandatos para fugir do processo de cassação. E também a de políticos condenados por corrupção. Para Britto, é inconstitucional impedir e/ou cassar candidaturas de políticos condenados de corrupção antes da vigência dessa lei, em junho de 2010. Além disso, à ficha limpa esbarra em outro ponto da Constituição, que assegura ao brasileiro o direito do voto, que pode render muito pano pra manga em tribunal. " De acordo com esse parágrafo da Constituição, o cidadão tem o direito de votar no candidato que quiser, seja honesto ou corrupto", avalia Britto.
      Não bastasse, questiona-se também o poder de fogo dessa lei no combate aos corruptos, como adverte o cientista político Ricardo Caldas, da UnB: " Os políticos contam com excelentes advogados: ministros, desembargadores etc que são extremamente capazes de encontrar brechas nessa lei para inocentá-los".
       Mais eficaz, na opinião do professor, seria o voto distrital. A ideia de dividir uma cidade, por exemplo, em pequenos distritos contribuiria para que se criasse um vínculo entre representante e representado,  facilitando ao eleitor ter um controle mais efetivo das ações de seu representante. " No sistema distrital, você sabe a quem se dirigir para fazer uma reivindicação ou cobrar algo. Mas, no de hoje em dia, a gente não sabe nem a quem recorrer", avalia ele, e conclui; " O  político em geral aproveita as lacunas para chegar ao poder. Quando chega, ele se diferencia de nós e pensa:  agora não preciso mais da sociedade"
      Apesar de o sistema distrital não ter ganho uma bandeira do movimento, ele recebeu aplausos de muitos de seus integrantes, como diz Carla: " Essa proposta está no nosso radar", e constata, " tem tanta coisa corrompida, bichada ... que a gente nem sabe o que reivindicar primeiro", e conclui: " não existe uma lei para mudar tudo isso. Seria preciso fazer uma lavagem cerebral nos governantes para que deixassem de ver na vida pública um trampolim para enriquecer".
      É evidente que Carla e demais integrantes do movimento não prescrevem sessões de lobotomia para combater esse mal. O que também não impede os grupos, em geral, de adotarem uma prática nociva à democracia: " Eles censuram opiniões em suas páginas no facebook", afirma Wellington Corsino do Nascimento. Uma moça, conta esse consultor de negócios, divulgou a realização de uma palestra que seria dada pelo senador Pedro Simon, na OAB, e foi repreendida pela moderadora do grupo, desencadeando uma discussão que atraiu cerca de 30 participantes. " No dia seguinte, abri a página e vi que tinham deletado esse debate". Ao que explica a pedagoga Mara Zampa, do Nasruas :" os grupos deletam qualquer mensagem que cita nomes de políticos e partidos", esclarecendo que estão liberadas postagens de matérias de veículos da imprensa.
     Essa atitude se explica: o movimento, por se definir como apartidário ou suprapartidário, se recusa tanto a promover e denegrir políticos, como evita o risco de se ver associado à legendas partidárias . O inconveniente é que deletar, por causa disso, um debate de ideias  fere, sim, o direito de liberdade de expressão, conquistado, sim, à custa de muita luta e sacrifício. Se um monte de gente, a propósito, não tivesse batalhado por esse direito, o movimento até faria essas marchas, mas debaixo de muita pancada.
     Na contramão dessa orientação geral, está o grupo regional Consciência, Voz e Ação: Movimento Popular Livre, de São Luiz, MA, independente da coordenação nacional do movimento, que pensa duas vezes antes de deletar uma mensagem que cite nome de político. " Se ela tiver informações importantes, de conteúdo educativo etc, a gente libera e repassa até para não ficar a mercê de alguns poucos que tem educação política", esclarece o estudante de jornalismo André Sioux Soares Zulu, reconhecendo que o grupo ainda não definiu com clareza os critérios do que se deleta ou não na página do grupo. E conclui: " A gente, certamente, não vetaria a divulgação de uma palestra sobre corrupção dada por Pedro Simon".
     Não se imagine que esse movimento seja povoado por um bando de gente sem noção, fascista ou, como se propaga em alguns blogs na internet, orquestrado pela direita midiática. O discurso, aliás, é espantoso, mas não chega a surpreender a quem vive em um mundo em que o bom senso perde de lavada do sectarismo - aquele fuzuê danado na USP, por causa da detenção discutível de dois estudantes que fumavam maconha e aquele em frente a editora Abril, provocada pelo fato da matéria Vingança contra Corruptos, de Veja, não ter abordado o assunto a e b, são exemplos desse absurdo.
      É claro que um ou outro integrante pode ter esse perfil, mas, em geral, o movimento é composto por pessoas bem-intencionadas, idealistas até, e os mais ativos, vira e mexe, precisam apagar incêndios internos e cortar um dobrado para definir uma agenda comum e,assim, evoluir na avenida que visa diminuir a corrupção no país. " Veja só: o movimento tem integrantes de diversas regiões do país, de diferentes formações, ideologias e até de idades. É trabalhoso, mas a gente precisa conciliar todas essas diferenças para realizar qualquer ação", esclarece Solla, sem omitir que vaidades e radicalismos atrapalham um pouco o desfile das alegorias do movimento.
     Mais ainda. Essa turma tem apanhado um bocado por não apresentar, até o momento, propostas viáveis, técnicas e qualificadas para promover às mudanças que reduziriam a prática de corrupção no país." Sem criar, por exemplo, um projeto de lei de Iniciativa Popular, com todos os requisitos formais, seguido pela coleta de assinaturas para um abaixo-assinado nacional, essas marchas contra a corrupção tendem a se esvaziar", diz o cientista político Vigne, e prossegue: " as pessoas logo percebem que essas caminhadas e gritarias só fazem cansar as cordas vocais e ajudar na perda de peso", atribuindo a falta de educação política em geral do movimento às políticas sociais dos últimos 40 e tantos anos que levaram o povo perder o interesse pela coisa pública.
     Em relação às marchas, é bom que se diga, elas tem, basicamente, uma função estratégica para o movimento, como esclarece Marcelo Costa Rocha, do Caras Pintadas, RJ: " As marchas são, simplesmente, para tornar o movimento visível" e, prossegue: " Assim, a gente vai reunir condições para organizar uma estrutura mais eficaz de combate à corrupção"
     A surra não termina aí. Várias pessoas que tentaram colaborar com o movimento tiraram suas alas da passarela: " Postei duas propostas nas páginas de diversos grupos, mas foram ignoradas por todos",conta Welligton. No caso, a produção e divulgação em escolas etc de uma cartilha, bem educativa, sobre corrupção  e uma manifestação nacional, incrementada com um abaixo-assinado, que denunciasse que o Brasil não cumpre os acordos internacionais de combate à corrupção, firmados com a OEA, Organização dos Estados Americanos.
     " A gente já perdeu mesmo diversos colaboradores", lamenta Mara. Ela explica que o excesso de mensagens postadas diariamente aliada a falta de experiência de um ou outro moderador faz com que algumas delas passem despercebidas ou não sejam devidamente avaliadas. Em compensação, ela avisa que, pelo menos, o grupo Nasruas, vai criar uma página no facebook destinada a receber propostas.
     Outra boa iniciativa, no caso, do movimento, é a realização do encontro Dia da Luta Contra a Corrupção, em 9 de dezembro, com a participação de cientistas políticos, advogados etc, além de integrantes de todos os grupos, para se discutir, basicamente, propostas viáveis de combate à corrupção. O movimento também fez, recentemente, alianças com a OAB e a Maçonaria que, entre outras contribuições, tem dado suporte técnico e jurídico.
     O cientista político Ricardo Caldas, aliás, acredita que seria vantajoso para o movimento estender essa aliança à ABI, Associação Brasileira de Imprensa, e a banda boa do Congresso e do Senado. Ao que Mara retruca: " Com partidos políticos e sindicatos, a gente não faz mesmo".
     A resistência se explica: " Não confiamos em nenhum partido para nos representar. Não é que todo político seja desonesto, mas todo partido, direta ou indiretamente, está ligado a esse sistema de corrupção de hoje em dia", diz Helder Nanis, do Movimento Nacional Contra a Corrupção. Ele argumenta, inclusive, que medidas de combate a corrupção, envolvendo as três bandeiras do movimento, nada ou pouco valem sem a vigilância da população.
     Como se percebe, esse movimento tem evoluído bastante sem perder o entusiasmo. Mas ainda vai enfrentar muitos desafios pela frente. " Se combater a corrupção fosse assunto simples, ele já teria sido tratado", afirma o cientista político Lúcio Almeida, da PUC, advertindo que é preciso ter uma ideia clara sobre o que é corrupção - apropriação privada dos recursos públicos - e seus mecanismos. O problema é que, de acordo com ele, os grandes grupos econômicos podem e sabem legalizar suas ações, dando um aspecto de legalidade a sua apropriação dos recursos públicos. " Quem quer combater a corrupção, praticada por políticos profissionais, também deve se dirigir ao setor privado: os políticos dificilmente a praticariam se não tivessem vínculos no setor privado", e concluí: " Só no público, vai enxugar gelo". Ao que pondera o professor Caldas: " Não é suficiente, mas é um primeiro passo"
     Outro desafio será conquistar a aprovação do Congresso para esse projeto anticorrupção, em fase de gestação. " A reforma política se dará pela pressão popular", aposta Helder e prossegue: " Não se combate a corrupção apenas com leis. É preciso que o povo tenha educação de qualidade para que possa até mesmo se conscientizar que é ele que detém o poder"  Para Karlos, a população já mostrou que é forte quando se mobiliza nacionalmente. Prova disso, argumenta ele, é a lei da ficha limpa, criada pela sociedade organizada e aprovada no Legislativo graças a pressão popular. " É dessa maneira que vamos continuar exercendo influência no sistema político", acredita ele.
     De fato. A voz do povo, reza o dito popular, é a voz de Deus. A questão é: o movimento vai conseguir o apoio necessário para promover essas mudanças? Eis aí um enigma digno de esfinge. É que embora a corrupção seja uma das grandes vilãs de nossas mazelas sociais, ela, como lembra Wellignton, não ocupa exatamente o topo do ranking de preocupações da população em geral, às voltas com um punhado de dores de cabeça que exigem soluções imediatas como falta de emprego, de moradia, de assistência médica etc.
     Pode-se supor que, por um lado, esse povo todo estaria mais disposto a marchar por emprego, casa e pronto-socorro do que contra a corrupção. Por outro lado, a corrupção, defende Vigne, é a melhor das causas para unir um povo. Tanto é que, segundo ele, a história mostra que as grandes mudanças políticas e sociais da humanidade foram provocadas por abusos de poder dos governantes.
     Vale lembrar que o povo brasileiro tem dado, ao longo de décadas, seu voto de confiança a quem prometeu acabar com essa prática nociva. Entre eles, o ex-presidente Jânio Quadros, que se propunha  a varrer a corrupção para fora do país, o ex-presidente Fernando Collor de Mello, a caçar marajás e até os militares do golpe, de 1964, a pôr um fim a corrupção e a subversão numa tacada só. E, por fim, ocorreu o contrário:  a corrupção, em vez de perder, tem ganhado terreno ano após ano.
     Há quem diga que, em matéria de corrupção, chegamos ao fundo do poço. Essa visão é até otimista porque, para mim, ela se assemelha mais a uma dessas práticas de poço sem fundo. No entanto, os irmãos metralha abusaram tanta da nossa paciência de oriental e capacidade de engolir sapos que alguns milhares de pessoas tiraram o bumbum do sofá e decidiram guerrear contra a corrupção. Guerrear mesmo! Porque para combatê-la é preciso ter qualidades de guerreiros de grande linhagem.
Obs: como ainda não resolvi os problemas técnicos desse blog, os interessados em postar comentários, que tiverem alguma dificuldade podem  fazê-lo ao clicar em anônimos, no editar perfil. E, se puderem, por favor, deixem o nome e o endereço de email. Muito obrigada.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Rafinha Bastos: enfant terrible?

   Prometi que meu próximo post seria sobre os grupos que promovem marchas contra a corrupção através das redes sociais, mas não consegui concluí-lo no devido tempo e resolvi publicá-los alguns dias antes da próxima marcha, marcada para 15 de novembro
    Embora umquedetransgressao.blogspot seja um blog de reportagens, eu não resisti a tentação de escrever um post sobre Rafinha Bastos, do CQC, da Band, que provocou mais um fuzuê por causa de suas piadinhas de péssimo gosto. Se é que se pode classificar a coisa que disse em relação à Wanessa Camargo, que comeria a cantora e o bebê, de piada. Como resultado, pelo que li por aí, Rafinha Bastos ganhou uma suspensão da Band e, em seguida, pediu demissão da emissora, aparentemente, para não ter que abaixar sua crista  e se desculpar pela língua tresloucada.
    A reação de Rafinha ao puxão de orelha da emissora lhe rendeu até elogio. Um colunista, que também abomina essas suas piadas, admitiu que sentiu uma certa admiração pelo humorista por ele ter se recusado pedir desculpas apesar de correr o risco de perder vultuosos contratos etc. Mas, pelo que havia lido anteriormente, o enfant terrible do humor, ou que posa de, chegou a se desculpar durante a exibição do programa seguinte ao que soltou aquela pérola sobre Wanessa e o bebê. Então, das duas, uma: ou o propagado pedido de desculpas não passou de boato ou os envolvidos no imbróglio querem que Rafinha Bastos se penitencie e dê uma explicação razoável por ter falado tamanho impropério, talvez, para facilitar as negociações em nome de um bem comum. Sem falar que esse episódio, também , pode ser apenas mais um happening para alavancar os negócios.
     Afinal, pode-se falar o diabo de Rafinha e suas piadas de péssimo gosto, mas não se deve nunca subestimar a inteligência do humorista nem sua capacidade de conquistar aplausos de boa parte da platéia - deu no New York Time que ele é o cara ou um dos, esqueci agora, que tem o twitter mais acessado do planeta. Meses atrás, lembram-se, o rapaz, em um de seus shows de comédia, fez uma piada sobre mulheres e estupro, em que dizia que  mulheres feias que fossem vítimas de estupro deveriam agradecer a Deus, e os estupradores, por sua vez, mereceriam abraços e não cadeia. O povo, em geral, claro, caiu matando, mas o humorista tirou da cartola um argumento que calou a boca de muitos de seus detratores e, de quebra, reconquistou parte da platéia: " se os comediantes tiverem que responder por toda piada que fazem, não vão ter tempo pra fazer nada na vida nem piada".
    Mais ainda. Com esse argumento, ele questionou o rumo do humor brasileiro e provocou uma espécie de catarse em quem torce o nariz para o discurso politicamente correto.
      Para mim, no entanto, há uma diferença básica entre essas coisas que ele disse e uma piada politicamente incorreta: a piada me faz rir e essas supostas tiradas de humor politicamente incorreto me provoca náuseas,urticária, diarréia. Eu, por exemplo, morro de rir com essas piadas machistas sobre mulheres e, em especial, às loiras. Quanto mais infames, mais engraçadas. Até porque é preciso ter um certo tipo de inteligência, percepção e sensibilidade para ser capaz de ter determinadas sacadas inusitadas e divertidas. Qualidades que, a meu ver, poucos tem.
     Enfim, nada contra o humor polticamente incorreto. O que, na minha opinião, não foi o que Rafinha Bastos fez no caso da, entre aspas, piada sobre o estupro. Nem a piada, entre aspas, que ele fez, sobre o estado interessante de Wanessa Camargo. Em ambos os casos, ele fez, simplesmente, um comentário grosseiro, ofensivo e totalmente sem graça.
    O que ainda me choca nessa história toda é ler comentários de profissionais de TV etc lançar mão desses fuzuês envolvendo Rafinha Bastos para erguer uma bandeira em defesa ao discurso politicamente incorreto. Como, pra mim, essas piadas do humorista não tem nada ver com o que eu entendo por politicamente incorreto, acho que estão, na verdade, prestando um deserviço a essa causa.
     Eu, por exemplo, cresci assistindo diversos programas de humor, ouvindo todo tipo de piada politicamente incorreta e morrendo de rir de cada uma delas. Os comediantes esculhambavam meio mundo, da mulher gostosa ao anão, e todo mundo, com exceção dos cri - cri de plantão, achava graça porque ninguém se sentia ofendido. A mer ver, a intenção desses grandes humoristas era convidar todo mundo para  participar de uma brincadeira. E, como ocorre nessas brincadeiras, cada dia a gente escolhe um para Cristo, e, no final, todo mundo é escrachado.
    Graças, também, a essas piadas politicamente incorretas, eu aprendi que, no frigir dos ovos, não há lá muitas diferenças entre mim e a beata, e a kenga, a rica fresca, a pobre sofredora, a intelectual, a cadeirante e a musa da estação, entre outras. Afinal, somos todas, cada uma com seu cada um, um prato cheio para esculhambação. E eu, que não sou humorista nem estudiosa do humor  brasileiro etc, aprendi, com base na leitura que fiz dos gênios do humor brasileiro, a diferenciar uma piada de péssimo gosto de uma politicamente incorreta. E como já disse,  essas piadas de Rafinha não tem nada de politicamente incorretas. São pura e simplesmente, grosseiras e sem um pingo de graça.
     Eu lamento é que os rafinhas da vida, profissionais inteligentes e talentosos, no afã de ter que agradar o apetite insaciável da platéia, clamando por uma tirada atrás da outra, e melhor que a outra, dêem às costas a muito do que estão carecas de saber para cair nessa esparrela toda.  Talvez essa piadinha de Rafinha sobre Wanessa lhe custe um preço salgado, talvez a platéia até goze com esse marfuá todo e queira Rafinha hoje, amanhã e sempre. Pensando bem, esse fuzuê todo combina muito bem com quem faz um programa chamado Custe o Que Custar. Eloisa Deveze.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Meu dia de Caetano Veloso

     Acompanho o blog de alguns jornalistas e fico impressionada com a capacidade que alguns leitores tem de deturparem o que foi dito, a propósito, claramente, nos posts. Com o passar do tempo, eu concluí que parte dessa confusão, na verdade, é proposital. Os motivos, suponho, são diversos, mas não vou tratar dessa questão agora.
     Ontem, aconteceu algo semelhante comigo. Pretendia inaugurar o blog com um post sobre os grupos que estão promovendo marchas contra a corrupção através das redes sociais. Mas, eu decidi escrever esse post hoje - apesar de meu blog não estar pronto - por causa do que aconteceu comigo ontem. Como queria escrever um post sobre esses grupos, eu enviei para os emails dos grupos uma série de perguntas semana passada, mas não obtive retorno.
    Resolvi, então, postar algumas de minhas perguntas no mural de o NASRUAS. Dois integrantes, no entanto, além de não respondê-las - até aí, ninguém é obrigado a responder nada -  preferiram fazer uma série de suposições absurdas.Uma disse que eu era suspeita por não mostrar a minha cara no facebook - não publiquei minha foto, simplesmente, porque não sei como fazê-lo. Nada contra minha cara nem em  me mostrar -  e o outro, que eu devia ser uma petista corrupta com a intenção de tumultuar o ambiente de o NASRUAS.
   A partir desse momento, eu comecei a ser desancada por um monte de gente que nem sequer havia lido minhas perguntas. Tentei esclarecer os equívocos e, talvez, tenha me excedido. Sei lá. Não sou nem nunca fui uma pessoa, digamos assim, de praticar política de boa vizinhança e falei o que eu sentia.   De imediato, eu me lembrei de uma experiência vivida por Caetano Veloso - e, por favor, não sou ninguém para me comparar a esse grande artista - quando se apresentou em um festival no TUCA. Caetano foi vaiado, provavelmente, por não concorrer com uma típica canção de protesto e soltou o verbo, dizendo, basicamente, para o público: se vocês entenderem de política como entendem de estética, nós estamos fritos. Parodiei essa declaração de Caetano e pronto: virei o alvo do achincalhe do dia. Tudo se tornou motivo para eu ser esculhambada em praça pública, até mesmo o fato de eu ter poucos amigos no facebook - eu, para ser franca, mal sei me movimentar no face.
   Enfim, eu deixei de me sentir uma Maria Madalena quando um rapaz, Francisco Sollas, de 18 anos, de Salvador, percebeu que  eu não era o dragão da maldade, me socorreu e disse que eu deveria procurar Decio, um dos criadores/fundadores de o NASRUAS, para obter as informações que precisava para escrever o meu post. Foi, então, que eu comecei a receber as informações que precisava para escrevê-lo. Mais ainda: alguns integrantes até se desculparam por esse entrevero todo.
     Agora, estou lendo os emails de integrantes dos grupos NASRUAS e BRASIL-UNIDO CONTRA A CORRUPÇÃO para escrever sobre essa marcha. Muito obrigada mesmo pela colaboração. Sem vocês, eu não poderia fazê-lo. Como, afinal, eu vou escrever uma reportagem sobre um determinado assunto sem falar com as pessoas envolvidas? E se eu faço alguma pergunta inconveniente para um entrevistado, cabe a ele me ajudar esclarecer minhas dúvidas. Muito obrigada por tudo. O próximo post será, justamente, sobre essa moblização nacional contra a corrupção, promovida pelos grupos nas redes.   Eloisa Deveze