a rua é da gente

a rua é da gente

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O troféu de perfomance em manifestação vai .....para soldado da PM do Rio de Janeiro





        vídeo compartilhado por Alexandre Mendes,do grupo Universidade Nômade
                                                                         
       Quando se pensa que agentes da repressão já esgotaram o repertório de atrocidades  para, digamos assim, conter manifestações, eles se superam e brindam a plateia com mais um espetáculo de estarrecer os ânimos mais habituados com o uso abusivo de autoridade e  força policial.
     Tanto é que as cenas do vídeo acima, produzido pelo Coletivo Mariachi, mostram que a passeata organizada por Black Bocs em apoio aos professores em greve, no dia 1/10, à noite, no centro do Rio de Janeiro, virou palco para soldados da PM exibirem uma perfomance digna de ganhar uma indicação ao Molière de covardia e descontrole do ano.
      Bastou um gaiato, suposto policial infiltrado, os chamados P2, arremessar uma pedra, quebrando  a porta de uma agência bancária no início da passeata, que, vale ressaltar, foi pego no pulo e impedido de fazer mais lambança pelos blocks,  para PMs começarem a descer o cassete em qualquer um a troco de nada.
      O rol de vítimas da fúria fardada, como sempre, inclui  advogados, fotógrafos e jornalistas, como Cláudia Castello, integrante do Coletivo, que levou um golpe na barriga. Agora, quem ganhou a cena e merece faturar o troféu Molière é o soldado que, após ouvir de um manifestante que eles haviam batido em um advogado, aos 7 minutos do vídeo, soltou, em alto e bom som, a pérola: " F... o advogado! F....! ". O descaso, a propósito, se afina perfeitamente com a conduta de quem bate e de quem manda reprimir com rigor atos de protesto de professores, que cometeram a audácia de se rebelar contra o plano de cargos e salários, sancionado no dia seguinte, 2 de outubro, pelo prefeito Eduardo Paes.  
     Inversão do papel da polícia à parte, o fato do ato de vandalismo do infiltrado deflagrar a ação violenta da PM nessa manifestação serviu pra mostrar aos blocks que eles correm o risco de ser traídos pela tática. Adeptos da ação de depredar  bancos e outros símbolos capitalistas em resposta à repressão policial, entre outros motivos, eles poderiam, e ao contrário do que ocorreu, ter perdido o controle da situação, que, provavelmente, renderia uma quebradeira geral,  com o agravante da fatura entrar na conta deles.
     É que os blocks, evidentemente, popularizaram essa tática e, ao mesmo tempo, se tornaram uma espécie de reféns dessa ação levada aos protestos. Desde que entraram na cena, eles, que, a exemplo do annonymous, converteram modelo de máscara e lenços no rosto em uma marca,  tem sido responsabilizados por todos os protestos com a presença de mascarados que descambam para a selvageria. Como resultado,  a polícia tem ganho carta branca para  deter qualquer   " mascarado" e  veículos da imprensa tem propagado uma campanha que, de modo mais ou menos velado, promove manifestantes com o rosto encoberto a bandidos, afirmando ou insinuando que quem o cobre deve esconder, por trás de lenços etc,  até o quê Deus duvida.
    A caçada aos mascarados, aliás, arrancou, provavelmente, tanto aplauso da audiência que os profissionais se esqueceram de, ultimamente, informar que muita gente tampa o rosto em protestos apenas para se proteger das bombas de gás lacrimogêneo e de pimenta que são atiradas pela PM.
    Não bastasse, os blocks que, aparentemente, acham que vão abalar as estruturas do sistema por depredar alvos escolhidos a dedo, ganhou até a desconfiança de alguns ativistas, que suspeitam de que eles se lançaram e se tornaram figurinha tarimbada em protestos com o intuito de inibir o ânimo da população de tomar as ruas, em peso, em defesa e/ou conquista de seus direitos. Feito, aliás, que deve ser creditado ao exemplo dado pela rapaziada do Movimento Passe Livre, que, como se sabe,  brigou, bravamente,  pela suspensão do aumento da tarifa de ônibus,  comoveu o coração da opinião pública e promoveu, no mês de  junho, a maior e mais transgressora onda de protestos que já desaguou neste país.
    A suspeita sobre os blocks que, ao meu ver, sempre esteve longe de ser uma suposição de mentes delirantes, cedeu, graças a esse episódio, espaço para outra hipótese: parte das depredações atribuídas aos Block podem ter sido, pelo menos, iniciadas por infiltrados. Mas, como reza o dito popular, eles criaram a fama e, agora, responsáveis ou não por todos os quebra-quebra,  deitam na cama.
    O máximo que se pode desejar é que, na próxima, os Blocks peguem, novamente, um infiltrado no pulo e o ponha pra correr, e repense sobre essa tática, que, ao meu ver, no momento,  não contribui e ainda pode comprometer as recentes conquistas de quem vai pra rua lutar por direitos e sonhos. E, de quebra,  fazer do slogan, la beautè est dans la rue, de maio de 68, uma verdade irrefutável.
    Afinal, a  beleza está na rua mesmo, e, diga-se de passagem, também, vai salvar o mundo - como observou uma personagem de O Idiota, de Dostoiéviski.

Um comentário: