a rua é da gente

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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O roqueiro que virou caçador de escravos

     Chega a surpreender. Mas a cruzada mundial contra o tráfico humano encontrou em um executivo da cena alternativa de rock , que levava vida de band leader, um combatente e tanto: Aaron Cohen, amigo e sócio de Perry Farrel, líder da Jane's Addiction e criador do Festival Lollapalooza, que trocou as turnês com a banda, além do vício em heroína e festinhas animadas, para libertar vítimas da escravidão nos quatro cantos do planeta.  É que ele, desde 2004, tem engrossado as fileiras da Ong Abolish Slavery Coalition  e arriscado o pescoço, durante suas incursões em territórios povoados por traficantes de drogas, cafetões e outros do gênero,  para caçar escravos. Em especial, meninas, adolescentes e mulheres que são obrigadas a prestar serviços sexuais em bordéis espalhados mundo afora.
     A caçada de Cohen tem início quando esse roqueiro americano, de 47 anos, recebe informações sobre o possível paradeiro de vítimas, dadas por familiares ou informantes infiltrados em diversas regiões, que vão das favelas do Camboja até os bordéis escondidos na América Latina, passando pelas savanas do Sudão, as selvas da Birmânia e os desertos do Iraque. A partir dai, ele se disfarça em turista sexual e segue pistas para encontrá-las. Em um ou outro lugar, ele chega até os bordéis graças aos motoristas de táxi -  que ganham um taque de gasolina de donos e gerentes dos bordéis por cada cliente que deixam na porta de seu negócio. Lá, ele é recebido pelo dono ou funcionário da casa, que, após saber de suas preferências étnicas, de idade e biotipo, promove um desfile com as meninas, com o perfil desejado, para que ele  possa fazer sua escolha.
     Cohen acompanha as meninas até o aposento -  muitas vezes, dividido apenas por lençóis-, as fotografa e colhe depoimentos para entregá-los as autoridades locais e competentes. " Em 20 minutos, eu colho os depoimentos, gravo em um celular e os transfiro também para outros que estão nos quartos em que me hospedei", revela , esclarecendo que, em geral, se hospeda em 4 quartos em cada incursão, deixando-os com as camas desarrumadas para confundir um possível invasor. Terminado o trabalho, ele não deixa de tomar uma cerveja e dar gorjetas ao chefe e/ou segurança do bordel.
     Mais ainda. Ele não só reúne provas, que podem conduzir ao resgate das vítimas por parte das autoridades, como também trata de negociar o valor do resgate com os donos dos bordéis, ameaçando  denunciá-los para as autoridades. Se não fecha "negócio", ele entrega as provas para as autoridades. Caso contrário, ele compra as menina, adolescente ou mulher escravizadas.
    O triste é que, ao fazê-lo, ele as livra de serem obrigadas a prestar serviços sexuais nesses bordéis por algum tempo, mas nada garante que não voltem a cair nas mãos dessa gente, seja por terem sido raptadas, vendidas pela família ou por terem caído em um conto do vigário.
    E não é à toa. O tráfico de seres humanos é a segunda atividade criminosa mais lucrativa em todo mundo, atrás apenas do tráfico de drogas, e seguida, pelo de armas. A ONU estima que cerca de 2 milhões e meio de pessoas sejam traficadas por ano, gerando um rendimento anual em torno de 9 milhões e meio de dólares. Ou seja, negócio ilegal e lucrativo o suficiente para seduzir os gananciosos e calar a boca de outros tantos.
   Cohen teve contato com esse trabalho no ano 2000. Na época, ele havia acabado de deixar a Jane's Addiction para cuidar de sua mãe, com câncer, em fase terminal. Decidiu retomar os estudos, fazendo mestrado na University de Vanguard, e, em uma de suas aulas, dadas pela professora Barbara Vogel, assistiu um documentário sobre a escravatura no Sudão. Ela, inclusive, disse aos alunos que estava angariando dinheiro para libertá-los e informou que cada escravo custava  a módica quantia de 50 dólares.  
  O roqueiro, além de fazer a doação, decidiu acompanhar uma delegação da ong CSI, Christian Soliderity Internacional, ao Sudão e testemunhou a libertação de escravos. " Percebi que eu poderia ser uma pequena parte da mudança e precisava apenas fazer com que as pessoas vissem o que eu vi", diz. Ele retomou sua atividade de executivo de rock, mas, em 2004, decidiu abrir mão de sua vida de astro do rock para libertar vítimas da escravidão. E, desde então, tem caçado escravos nos quatro cantos mundos.

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